Quem foi Igrejas CaeIro?

  • Autor, apresentador e empresário concebeu e difundiu programas como 'Os Companheiros da Alegria' e 'O Comboio das seis e meia'.

    Igrejas Cairo foi um homem culto, informado, um homem da empatia, um intelectual do seu tempo que deixou um legado importantíssimo para compreender a história modernista e os movimentos artísticos portugueses do Séc. XX.

    Do seu currículo consta a fundação do Teatro Maria Matos, em Lisboa, em 1969. A Sociedade Portuguesa de Autores atribuiu-lhe o Prémio de Consagração de Carreira em 2005 e também a Medalha de Honra, dedicando-lhe uma grande exposição retrospetiva em 2007.

    Nascido a 18 de agosto de 1917, Francisco Igrejas Caeiro ficou conhecido como Igrejas Caeiro. Foi um ator, locutor de rádio e televisão e político.

    Foi nascer a Castanheira do Ribatejo ajudado pela avó parteira que lá morava. E regressou a Lisboa. Filho único, cresceu sob a influência do pai, republicano dos sete costados, do Partido Radical, soldado de cavalaria da GNR que depois de queda do cavalo muda de vida - torna-se encarregado de refeitórios públicos, os chamados ‘sopa do Sidónio'. A mãe é costureira.

    No prédio da Rua Ivens, hoje ocupado pela Rádio Renascença, a família abre uma pensão. Na vizinhança destaca--se certo italiano, cantor lírico, que lhe gaba a voz. Tem 10 para 11 anos, frequenta o Liceu Passos Manuel. Aos 12 anos apresenta-se ao serviço na Emissora Nacional. Queria ser locutor. A graça pegou, mas ainda teria de esperar muitos anos até se sentar frente àqueles microfones. “Mandaram-me embora. Foi uma tristeza.” Refere em entrevista a um jornal diário muitos anos mais tarde.

    Em idade de tropa é colocado na Escola Prática de Administração Militar e é selecionado para o Curso de Sargentos em Tavira quando vê um anúncio no ‘Diário de Lisboa’ onde se publica “À procura dum ator e de uma atriz”. Era um concurso promovido pelo jornal, pela Emissora Nacional e pelo Teatro Dona Maria II. estreou-se como ator em 1940 no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, de onde seria expulso, anos mais tarde, por causa das suas posições antifascistas, posições essas que viriam a fazer com que o regime de Salazar o proibisse de se apresentar em espetáculos ao vivo.

    Através do mesmo concurso de 1940 entraria na Emissora Nacional onde chegaria a locutor de 1.ª classe, antes de ser despedido em 1948, vítima de um saneamento político juntamente com uma dezena de outros trabalhadores que só regressariam à estação estatal após o 25 de Abril de 1974.

    Entre as suas obras, contam-se a atuação no filme Camões, de Leitão de Barros, em 1946, e a produção, no início da década de 1950, dos populares programas radiofónicos Os Companheiros da Alegria, transmitido diariamente com grande êxito pelo Rádio Clube Português e Comboio das Seis e Meia, com transmissão em diferido pela Rádio Graça.

    No entanto, em 1954, a pretexto de um elogio que fez ao primeiro-ministro da Índia, Nehru, Igrejas Caeiro viu todas as suas atividades profissionais ligadas a espetáculos públicos, dependentes da Inspeção dos Espetáculos, proibidas por um despacho do ministro da Presidência João Pinto da Costa Leite. Passados 5 anos, regressou ao teatro,mas pôde recriar Os Companheiros da Alegria como programa de estúdio do Rádio Clube Português. Foi casado, ao longo de mais de 60 anos, com a atriz Irene Velez, falecida em 2004, a Lelé dos diálogos de O Zequinha e a Lelé, com Vasco Santana, que Igrejas Caeiro produziu. Igrejas Caeiro morreu em Lisboa, aos 94 anos, em 19 de fevereiro de 2012.

  • Em 1954, ‘Os Companheiros da Alegria' percorreriam o País, em itinerância, Açores e Madeira inclusive.

    Plateias aplaudiam os artistas, quando eles chegavam era dia feriado. No auge da popularidade, Igrejas Caeiro tinha mandado fazer ao Porto um autocarro como nunca se tinha visto - queria ir às colónias africanas, "atravessar o mapa cor-de-rosa".

    "Eu era tão ambicioso! Este autocarro podia levar água e até tinha cozinha e casa de banho. Imaginem o que seria aparecer em África uma coisa destas cheia de gente de teatro!"

    Mas o autocarro prateado nunca sairia de Lisboa. Depois da resposta a Raul Duarte, Igrejas Caeiro é proibido de trabalhar por decreto. Vende o veículo por metade do preço ao Sport Lisboa e Benfica, com o coração em estilhaços.

  • Em 1969, fundou e foi diretor artístico do Teatro Maria Matos, em Lisboa, que foi inaugurado com a peça Tombo no Inferno, de Aquilino Ribeiro.

    Durante a Primavera Marcelista viria a colaborar na televisão como ator e realizador, sendo ainda o apresentador de TV Palco por cinco anos.

    Após o 25 de Abril Igrejas Caeiro foi Deputado pelo Partido Socialista à Assembleia Constituinte (1974-1976) pelo Círculo Eleitoral de Lisboa.

    Entre 1976 e 1979, Igrejas Caeiro foi ainda Diretor de Programas da Radiodifusão Portuguesa E.P., atual Rádio e Televisão de Portugal.

    Regressando à política, Igrejas Caeiro foi Vereador da Câmara Municipal de Cascais com o Pelouro da Cultura, Desporto e Turismo, entre 1982 e 1985, durante o mandato da Presidente Helena Roseta.

    Fez parte da Maçonaria.

  • Foi feito Comendador da Ordem da Liberdade a 9 de junho de 1995. Igrejas Caeiro foi ainda distinguido com a Medalha de Ouro da Câmara Municipal de Oeiras.

    Em 2005 Igrejas Caeiro recebeu o Prémio de Consagração de Carreira e a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores.

    Em 2007, recebeu da Câmara Municipal de Lisboa a Medalha de Mérito Municipal, no seu Grau Ouro, no âmbito das comemorações do Dia Mundial do Teatro (27 de março), a par de Ruy de Carvalho, Fernanda Borsatti e, a título póstumo, Artur Ramos.

A Casa-Museu Igrejas Caeiro abre as portas para o receber numa viagem a um passado recente da cena artística contemporânea.

Aqui ficará a conhecer a vida e obra de Francisco Igrejas Caeiro, uma das figuras mais relevantes da sociedade portuguesa na rádio, teatro e cinema durante o  Séc XX.

  • Construída em 1958, a Casa-Museu Igrejas Caeiro, foi projetada pelo Arquiteto Keil do Amaral em pleno Estado Novo num estilo “Movimento Moderno”.

    Situada no Alto do Lagoal, Caxias, foi na época descrita na imprensa como "vivenda de estilo hollywoodiano", à escala nacional. Ocupando uma área de 4500 metros quadrados, a habitação está implantada num promontório que domina todo o vale, a Oriente Lisboa, a Ocidente a saída da barra, de fronte uma vista privilegiada sobre o Tejo. Esta moradia e espaço envolvente, incluindo jardim, horta e capoeira, constituía, até há pouco tempo, uma das obras mais bem conservadas da autoria de Keil do Amaral, estando os interiores intactos, mantinha a sua conceção original, refletindo o gosto moderno pelo conforto funcionalista, tão raro em Portugal, abraçado pelo casal Igrejas Caeiro e Irene Velez (1914-2004).

    Deixada em testamento pelo seu proprietário à Fundação Marquês de Pombal, Oeiras, com a condição de ser musealizada e o seu valioso espólio documental colocado à disposição da comunidade, acaba de ser requalificada e conta com cerca de 3500 livros, todos catalogados pela Biblioteca Municipal de Oeiras, e ainda mais de 2931 discos de vinil que ficarão agora disponíveis ao público como era a vontade de Francisco Igrejas Caeiro.

    A importância arquitetónica e artística deste legado no contexto do movimento moderno em Portugal, dando especial ênfase à integração das artes e design de interiores constitui um testemunho exemplar.

    Na Casa-Museu Igrejas Caeiro pode também ficar a conhecer a sua vida e obra numa retrospetiva que passa pelos seus tempos da rádio passando pelo teatro e cinema e a sua participação política na sociedade portuguesa. Nos seus interiores, encontrará também, obras de Júlio Pomar, Cargaleiro e o estúdio radiofónico onde fazia as suas transmissões e gravações.

  • A importância arquitetónica e artística deste legado no contexto do movimento moderno em Portugal, dando especial ênfase à integração das artes e design de interiores constitui testemunho exemplar, como poderá ser constatado, sendo a peça mais relevante no contexto da integração das artes sem dúvida o painel azulejar da autoria de Maria Keil (1914-2012), "Teatro", 1959, revestindo uma parede da galeria envidraçada, com vista de mar, também usada como sala de jogos e espaço de trabalho. Produzido na Fábrica Viúva Lamego, como era habitual na obra da autora.

    O painel é composto por um conjunto de figuras integrado num fundo de padrão geométrico, à semelhança do que acontece em "Pastores", 1955, pertencente à coleção do Museu Nacional do Azulejo. Como explica Igrejas Caeiro à revista Plateia, 10 de maio, 1963, uma das figuras alegóricas representa a Tragédia, outra a Comédia e a Hidra, monstro de sete cabeças, representa o público. Há ainda a referir uma figuração circular geométrica, preenchida com cores primárias, que poderá evocar o Sol e a Lua/Dia e Noite, provavelmente numa analogia à Tragédia e à Comédia.

  • Na casa do Alto do Lagoal todo o mobiliário e conceção dos interiores, pensados de forma integrada, tomam um valor essencial, revelando a articulação entre o pensamento do arquiteto e dos seus clientes. No atelier Keil do Amaral o design de mobiliário e objetos ficava muitas vezes a cargo de Maria Keil. É provável que neste projeto tal também possa ter ocorrido, uma vez que se reconhece no desenho do mobiliário uma extensão do pensamento arquitetónico. Estantes, bancadas ou armários sublinham os espaços, racionalizando-os, num aproveitamento funcional e equilibrado.

    Sente-se também um diálogo entre os objetos pessoais dos habitantes da casa e os espaços arquitetónicos, como se estes tivessem sido pensados para os acolher. Obras de arte, peças de cerâmica moderna e popular, livros, candeeiros, vasos com plantas e mobiliário relacionam-se de forma complementar, em dinâmica, sem a necessidade da criação de lugares determinados para cada coisa.

    A modernidade está espelhada também na escolha dos objetos, dominada por uma coleção de arte moderna que inclui pinturas de Júlio Pomar (n.1926), Jorge de Oliveira (1924-2012) e Abel Manta (1888-1982), entre outros. O interesse pela cerâmica moderna revela-se não só através do painel de Maria Keil, mas também pela presença da cerâmica de autor de Jorge Barradas (1894-1971) ou do "Cristo" de Rosa Ramalho (1888-1977), ceramista popular da região de Barcelos, admirada e dada a conhecer pelo movimento moderno. Numa parede especialmente revestida por pastilhas cerâmicas da fábrica Tijomel, Caxarias, cria-se uma textura gráfica e lumínica, sobre a qual se destaca o desenho da chaminé da lareira e o Cristo em barro branco, não vidrado.

  • A moradia de Caxias alberga também um estúdio de gravação profissional, uma coleção de discos de vinil e uma completa biblioteca de teatro, o que permitiu na época a realização de programas de rádio a partir de casa. O programa publicitário e de teatro radiofónico, "Companheiros da Alegria", dirigido por Igrejas Caeiro e Irene Velez, foi gravado nos seus estúdios privados, equipados com a mais moderna tecnologia da época.

VISITA

VIRTUAL 360

VISITAS À CASA MUSEU IGREJAS CAEIRO - a partir de 1 de fevereiro

A Casa onde as palavras ditas ganham vida, expressão e identidade.

Previamente marcadas na Fundação Marquês de Pombal. Envie um e-mail para 'comunicacao@fmarquesdepombal.pt' com o seu nome completo e número telefónico. As visitas serão efetuadas em grupos até 10 pax. Após a inscrição os interessados serão informados no dia e hora da sua realização.

A Casa onde as palavras ditas ganham vida, expressão e identidade.

 

Localização:

R. Paulo da Gama 8, Alto do Lagoal,

2760-091 Caxias

Email:

geral@fmarquesdepombal.pt